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Manatuh - O Tormento Gelado

Atualizado: 1 de jul. de 2020




Somos um povo forte e guerreiro, nós de Draco não fugimos de nossos inimigos, não importa o quão grandes e poderosos eles sejam, lutamos com todas as nossas forças até o fim. Meu pai era um grande guerreiro, seu nome era Branw Dayer, líder do nosso clã, uma das poucas pessoas no mundo a conseguir matar um dragão e absorver seu poder para si, ninguém acreditou quando ele morreu, como alguém tão poderoso e forte como meu pai pôde ser derrotado?

O dia amanhecia quando sai para cortar lenha e pude ver passar voando sobre a floresta o majestoso Drayfhus, conhecido como: o tremor, o dragão de meu pai, ele voou pelas terras de Draco em direção à montanha de Hornhilf, lá era onde ele vivia antes de ser morto por meu pai. Dragões são eternos, quando mortos por alguém seu poder passa imediatamente para a pessoa que o matou, o dragão se torna servo dessa pessoa e o acompanha até a sua morte. Quando o guerreiro morre o dragão renasce no antigo ninho dos dragões que fica em um mundo além deste. Meu pai havia saído em uma jornada para as terras mais frias ao norte chamada de Manatuh, muito além do grande oceano, ele levou consigo uma equipe de 50 homens, pretendiam tomar aquelas terras que até então eram inabitadas, isso foi a 6 meses, ver o dragão de meu pai retornar para seu antigo lar depois de tanto tempo foi a certeza que tive de que meu pai estava morto.

No dia seguinte mandei reunir todos os líderes de clã aliados e seus conselheiros para realizarmos a cerimônia de passagem para a alma de meu pai alcançar os salões de Ohdros, onde ele descansará por toda a eternidade. Após o ritual de passagem, nos reunimos para ceiar e decidir o destino de meu clã, como de costume, os demais líderes decidiram que eu, Edwan Dayer, assumisse a liderança de meu clã e continuasse o legado de meu pai, fiquei bastante feliz com essa decisão. Porém tinham em mente uma enorme preocupação que os incomodava a todo momento: quem matou meu pai? Talvez ele tenha sido encurralado por um gigantesco exército, obrigando-o a lutar até o cansaço, ou foi surpreendido por uma horda de criaturas gigantescas e sanguinárias, ninguém queria aceitar a possibilidade de ele ter sido derrotado por um único inimigo, não faria sentido, teria que ser um inimigo extremamente poderoso para derrubar meu pai.

Enquanto todos murmuravam pelos cantos do grande salão, eu levantei a voz e disse:

— Meu primeiro ato como líder deste clã será subir a grande montanha de Hornhilf para me encontrar com Drayfhus, quero ouvir do próprio dragão quem é o assassino de meu pai, depois disso irei atrás dele, irei matá-lo e trazer glória para nosso clã.

Todos Comemoraram, “Não podíamos esperar menos do filho de Brawn Dayer!” eles disseram, e assim minha jornada começou.

A grande montanha de Hornhilf fica a cinco semanas de viagem da minha cidade, o caminho passa por dezenas de áreas perigosas e sobre o domínio de clãs inimigos. O percurso foi árduo, demorado e cruel, levei comigo uma dúzia de guerreiros habilidosos e confiáveis, felizmente conseguimos chegar todos sãos e salvos à montanha.

A montanha possui algumas ruínas de eras antigas, clãs e reinos que viviam no alto da montanha antes da chegada dos dragões, agora todos temem se aproximar dela, os dragões não são muito amigáveis, expulsam todos que tentam subir a montanha para desafiá-los. Eu pedi para que meus homens ficassem no pé da montanha me esperando, lá eles montaram um acampamento para se manterem aquecidos enquanto aguardavam o meu retorno, se em cinco dias eu não retornasse, eles deveriam levantar acampamento, voltar para casa e anunciar a todos a minha morte. Leva pelo menos duas semanas para alcançar o topo da montanha onde os dragões vivem, mas eu contava com um pequeno e arriscado plano para chegar ao topo mais rápido. Eu subi até certo ponto e em seguida coloquei fogo em algumas árvores e as deixei queimar, fiquei próximo a borda e gritei bem alto o nome de Drayfhus. Não demorou e pude ouvir um estrondo no topo da montanha, como se algo grande houvesse se jogado para fora dela, seguido de um rugido alto. O barulho foi aos poucos sendo substituído pelo bater de asas de uma criatura gigantesca, não era possível dizer exatamente onde ela estava, uma forte tempestade de neve atingia a montanha sem parar, estava quase anoitecendo, até que enfim se revelou, saindo da neblina e voando bem próximo a mim, Zafira, a presa gelada, um dragão branco como a neve, com escamas brilhosas e pontiagudas, seus olhos eram azuis bem vivos, e brilhavam como se quisessem carregar a sua alma para o além, suas asas eram quase transparentes de tão finas, eram enormes, delas sai geada sem parar, como o rastro de um cometa. Ela olhou bem para mim e eu pude ouvir a sua voz, ela disse:

— Edwan Dayer, Filho de Brawn, antigo senhor de Drayfhus, vieste de muito longe, o seu coração encontra-se determinado a realizar seu objetivo a qualquer custo. Venha, irei levá-lo a Drayfhus, ele o aguarda.

Ela se aproximou ainda mais e foi possível que eu subisse em suas costas, com um poderoso bater de asas rapidamente chegamos ao topo, nele havia uma imensa caverna, lá dentro o dragão de meu pai esperava por mim.

Segui caverna adentro com Zafira logo atrás de mim, estar em sua presença me mantinha sempre com frio, mesmo estando protegido do vento e mesmo com toda a proteção que eu usava, dela emanava uma presença assustadora, mas eu pude sentir que ela não queria me fazer nenhum mal. Cheguei então em um enorme espaço dentro da montanha, tão grande que cidades inteiras podiam ser construídas dentro, várias delas. Drayfhus estava sentado próximo a Zyro e Halen, outros dois dragões assustadoramente grandes e belos, no total seis dragões viviam dentro da montanha. Me aproximei devagar deles para conversar com Drayfhus.

— Seu pai foi um homem honrado, bondoso e respeitado por seus iguais, nós nos tornamos amigos durante o tempo que fui servo dele, por essa razão estou recebendo você em nosso ninho. — Disse Drayfhus.

— Obrigado por me receber. Acredito que saiba o porquê de minha vinda.

— Queres saber quem matou seu pai. Se é vingança que procura, recomendo que reconsidere, o ser que nos matou não pode ser desafiado por meros humanos, mesmo com o meu poder seu pai não pôde derrotá-lo, o que um humano como você conseguirá fazer?

— Você conheceu meu pai, conhece nosso povo, não importa o inimigo, iremos sempre lutar.

— Que assim seja, irei levá-lo até ele.

Drayfhus me levou até o pé da montanha para que eu pudesse me encontrar com meus homens, eles levantaram o acampamento e juntos todos nós seguimos para as terras de Manatuh além do oceano, a viagem foi rápida nas costas de Drayfhus, por seu tamanho imenso, os dragões cobrem enormes distâncias em pouco tempo, chegamos ao nosso destino logo após o amanhecer do dia seguinte. Ele nos deixou pouco depois da costa, numa planície branca, antes de voltar para Draco, Drayfhus disse a mim:

— Aquele que você procura é um ser feito inteiramente de neve, o frio é sua alma e essência, dele somente a morte pode ser esperada. Sua aparência é como a de um homem, mas muito, muito maior.

— Como encontro ele? — Perguntei.

— Ele já sabe que está aqui, ele virá até você.

Dito isso, ele bateu suas gigantescas asas e subiu tão alto quanto as nuvens, rapidamente desapareceu no horizonte.

Seguimos então para dentro daquelas terras, tudo era branco, coberto de neve, não havia árvores, criaturas, plantas, pedras, nada, somente neve. Andamos o dia inteiro, não sabíamos mais nem pra que lado ficava o oceano, tempestades de neve vem e vão o tempo todo, não há montanhas nem morros, somente breves montes de neve amontoada. Ao anoitecer nós acampamos ali mesmo, infelizmente não vimos nenhuma caverna para que pudéssemos nos abrigar durante à noite, então tivemos que nos contentar com nossas pequenas barracas.

Permanecemos assim por mais quinze dias, andando por aquele deserto de neve sem nenhuma pista de nosso inimigo, alguns de meus homens morreram de frio enquanto dormiam, restando somente eu e mais quatro. O desespero estava tomando conta de todos nós, não encontramos nosso inimigo, e não podíamos nem voltar para o mar e sair daquelas terras, estávamos perdidos no meio de toda aquela neve. Tudo piorou quando a comida finalmente acabou, não havia animais para caçar, nem árvores para colher frutos, tudo era somente neve, estava anoitecendo quando eu e meus homens esbarramos sem querer em uma caverna, seu interior era todo feito de gelo, decidimos entrar nela para descansar até o amanhecer, estávamos famintos e assustados.

Na madrugada, enquanto dormíamos, comecei a ouvir alguns rugidos abafados, levantei para ver o que era, havia um urso enorme devorando dois de meus homens, seus olhos brilhavam azul, seu pêlo parecia estranho e suas garras e dentes eram feitos de gelo, ao perceber que eu havia acordado, ele avançou contra mim, consegui pegar meu machado a tempo de deferir-lhe um golpe violento, o machado o atravessou como se fosse nada, lançando parte de seu rosto ao chão, depois de tomar o golpe, o corpo do urso começou a se desfazer, lentamente ele foi se misturando ao chão de neve até desaparecer.

Eu e meus últimos dois homens ficamos aterrorizados com o que acabamos de presenciar, permanecemos acordados e alertas durante todo o resto da noite, tínhamos medo de que algo nos atacasse novamente. Quando amanheceu, eu levantei e sai da caverna de gelo enquanto meus homens juntavam as coisas e enterravam os corpos dos que foram mortos na noite passada, eles estavam saindo da caverna quando todo o gelo dela se transformou em neve e começou a afundar puxando os dois para o fundo, eu rapidamente pulei para tentar ajudá-los, segurei com força a mão de Tay e comecei a puxar enquanto tentava alcançar Feros, mas antes que eu pudesse ajudá-lo, o buraco da caverna o engoliu e desapareceu.

— Pelos Deuses, o que está acontecendo aqui? — Perguntou Tay.

— Eu não... — Eu parei por um segundo e lembrei das palavras de Drayfhus: “um ser feito inteiramente de neve”

Após esse pensamento, me joguei ao chão e comecei a cavar freneticamente com minhas próprias mãos, cavei durante algumas horas, abri um buraco profundo, continuei cavando até atingir uma camada grossa de gelo, saquei meu machado e comecei a golpear o gelo com toda a força que me restava até ele se partir, abaixo dele não havia terra como eu gostaria de encontrar, somente água, eu a alcancei para provar.

— Salgada! — Eu disse, e minha alma gelou, aquela era a prova do que eu temia.

— Isso...é água do mar, estamos no meio do oceano! — Eu disse para Tay, que ficou ainda mais assustando.

— O que? Como assim estamos no meio do oceano? Andamos por quilômetros para dentro dessas terras. — Ele disse enquanto olhava desesperadamente para os lados.

— Isso não é uma terra, por isso não há animais, plantas, árvores, montanhas e nem mesmo pedras neste lugar, não estamos sobre terra alguma.

— Mas e quanto ao urso que matou Duncan e Pedros? — Insistia Tay.

— Ele era feito de neve e gelo, nada mais.

Tay caiu de joelhos descrente, eu levantei e comecei a escalar para fora do buraco que cavei. Ao chegar onde Tay estava, só pude olhar para ele antes de vê-lo sumir, ele estava congelado, aos poucos se transformou em gelo, depois em neve, em seguida desapareceu como o urso. Mais uma vez eu estava aterrorizado, mas não tive o tempo devido para ficar surpreso com o que acabara de acontecer a Tay, toda a neve começou a correr aos poucos e a se juntar num monte distante e enorme que parecia estar levantando devagar, dele uma cabeça titânica se formou enquanto me encarava, naquele momento eu tive certeza, Manatuh não é uma terra, Manatuh é um ser, o assassino de meu pai, e também o meu.


Autor: Esdras Petrus


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